sexta-feira, 3 de junho de 2011

Felicidade ou Hedonismo ?

Já faz algum tempo que não escrevo nada mais profundo, talvez por falta de tempo mas principalmente por falta de material que me despertasse o desejo de escrever após ter me levado a uma reflexão profunda, como foi o caso do texto do José Torres.


Belíssimo texto e reflexões muito interessantes. Impossível não sentir pelo menos uma pontinha de inveja da situação do autor: aos 35 anos de idade ele é solteiro e pelo que se pode deduzir do texto é profissionalmente bem-sucedido (infelizmente ele não informou se é realizado profissionalmente, isto é, se ele ama o que faz ou se apenas ama aquilo que o dinheiro que receber por seu trabalho lhe traz) mas aqui vou presumir que ele também seja profissionalmente realizado.

Também gostaria de dizer que aqui me permito colocar minhas experiências e convicções pessoais.

Ao lar o texto confesso que fiquei com uma certa inveja da situação do autor. Mas ao puxar pela memória a minha surpresa foi que aos 35 anos de idade a minha situação era praticamente a mesma d do autor. Havia Curso Direito e Havia sido aprovado em dois concursos públicos, sendo um de nível médio e outro de nível superior e segundo o IBGE e o IPEA meu padrão de vida era de classe B (ou média alta). Tinha meu apartamento e meu carro, ambos pagos à vista. Mas aqui preciso reconhecer que tudo isso foi graças ao meu pai que sempre foi muito amoroso ao mesmo tempo em que era severo comigo me cobrando esforço dedicação e boas notas nos estudos, coisas sem as quais com certeza não teria chegado onde cheguei.

Aos 35 anos de idade eu tirava férias e viajava pelo menos 2 vezes ao anos (em períodos de 15 dias cada férias), já havia conhecido todas as regiões do Brasil e as principais capitais. Já havia ido a Miami e Aruba, possuia sempre os computadores e dispositivos eletrônicos mais atuais. Porém nunca fiz muita questão de festas ou baladas, pois esse tipo de diversão nunca fez muito sentido: afinal por qual razão um ser humano gataria dinheiro para entrar em um lugar barulhento onde seria obrigado a fumar “por tabela” respirando a fumaça inalada por terceiros e ainda se entupir de drogas até seu organismo não suportar (SIM o alcool é uma droga, lícita mas é uma droga entorpecente que afeta diretamente o sistema nervoso central …)

Sexo também nunca foi algo que me faltou – não sei é pelo falto de que as mulheres em Manaus são bem acessíveis ou se isso é um reflexo da sociedade moderna e de pós-revolução sexual feminina – mas o fato é que sexo nunca foi algo que tenha sido difícil de encontrar.

A única coisa que posso dizer que nunca tive foi turma de “amigos”, mas isto reconheço ser culpa, pois sempre fui muito exigente ao mesmo tempo em que era introvertido e tinha dificuldade de me aproximar da pessoas, possivelmente passando a falsa impressão de ser “esnobe” ou metido e infelizmente até hoje isto é algo com que tenho dificuldade em lidar. Talvez por isso (não tenho certeza) sempre achei que meus amigos eram minha família, pias, tios, tias e primos e dentre esses sempre achei que os meus melhores amigos era meu pai e minha mãe.

Como diria Roberto Carlos: “das lembranças que eu trago da vida” a melhor de todas que tenho de meu pai não foi o dia em que ele assinou o cheque com o qual comprei meu primeiro apartamento, nem o carro que ele me deu quando eu completei 18 amos (sim foram presentes maravilhosos) mas a melhor lembrança que tenho com meu pai foi um sábado à tarde quando ainda morávamos no Jardim do Salso em Porto Alegre ele me levou para ver uma “corrida” de skate, me deu um picolé de limão e ficou segurando a minha mão e passamos a melhor tarde de sábado da minha vida (e até hoje quando lembro não consigo conter as lágrimas) pois na quela época meu pai trabalhava muito e eram raros os momentos que passávamos juntos. Já para falar da minha mãe teria que escrever um livro, mas posso resumir dizendo que graças a ela, mesmo sem grandes condições financeiras para adquirir bens de consumo que hoje são considerados indispensáveis eu tive a infância mais feliz que alguém poderia ter...
Também aos 35 anos não havia cometido nenhum “erro grosseiro”; não havia casado por paixão ou pressão nem engravidado ninguém por acidente, apesar de nunca ter me protegido devidamente...

Mas aí começas as diferenças. E como diz o filósofo antes de iniciar uma discussão é preciso definir os termos. Termos como carência, auto-estima, erro, felicidade, e prazer precisam ser definidos e mesmo assim há uma linha muito tênue entre eles.

Também preciso admitir que a vida e principalmente sua interpretação são atividades extremamente subjetivas e essencialmente individuais não havendo uma fórmula do sucesso na vida. Por outro lado a sociedade nos impõe certos padrões de comportamentos e quando não os seguimos ou somos excluídos ou somos rotulados ou como fracassados ou como desequilibrados.

Pois bem, aos 35 anos, apesar de me encaixar no modelo de vida que muitos passam a vida toda perseguindo eu posso dizer que ainda faltava alguma coisa.
O prazeres sensoriais, como sexo, compras ou viagens já não faziam muito sentido.

Eu sentia um vazio, uma falta e se falta é sinônimo de carência eu era carente. Mas carência de que?
Essa era a grande questão: carência de que?
E aí começas a surgir as grandes questões, que os covardes não tem coragem de encarar e preferem fugir delas escondendo-se atrás de sexo, festas, bebidas, drogas, culto ao corpo principalmente exercícios físicos (pois quando o corpo se exercita ele produz endorfinas – as drogas da felicidade)
e por aí vai...
Muitos também o fazem apenas para ser aceitos pela sociedade: “todo mundo faz”. Então eu fico pensando quando comer merda virar moda (pois algumas pessoas já bebem a própria urina …)
Ou o fazem para atingir um padrão estético que é imposto pela sociedade...

Com isso não quero dizer que não se deve cuidar do corpo ou da saúde, ma sim que não devemos confundir prazer com felicidade.
Hedonistas são aqueles que vivem em busca de prazer e evitando a dor a todo custo.
Outro reflexo de uma sociedade de consumo onde a suprema felicidade está no ato puro e simples de consumir e onde as pessoas são valorizadas pelo seu poder de compra, pelo que têm e não pelo que são.

Eu costumo que meu primeiro grande insight ocorreu em Aruba na na beira do mar do caribe. Eu estava com um grupo de “amigos” e queria ir tomar um sorvete mas ninguém quis ir comigo então eu fui sozinho. Sentado em um pier contemplando o por-do-sol e tomado um sorvete de repente me lembrei do dia em que meu pai segurava minha mão enquanto eu tomava meu sorvete de limão. Naquele momento uma saudade profunda do meu pai se abateu sobre mim. Não era algo ruim ou doentio, mas simplesmente o desejo de ter com quem compartilhar tudo aquilo que eu havia conseguido até aquele momento da mesma forma que um dia meu pai havia feito comigo.

Naquele momento eu percebi que durante anos tudo o que meu pai havia feito por mim não havia sido motivado por um sentimento de dever ou obrigação mas sim pela mais sublime forma de amor que é o amor de um pai por seus filhos, amor esse que leva o pai a sacrificar muitas cosas apenas para fazer o filho feliz. Amor que leve o pai a dizer não, quando gostaria e poderia dizer sim, mas que precisa ser firme para dar ao filho noções de limite, respeito e responsabilidade, noções essas indispensáveis para uma vida equilibrada e em harmonia com o meio onde se vive.

Mas tudo isso eu só seria capaz de compreender quando meu filho já tinha 8 meses de idade.
Ao contrario de outras pessoas os “erros” que eu cometi, foram cometidos depois de meus 35 anos de idade. Não tenho vergonha de dizer que meu primeiro filho eu o tive com uma “piriguete” que conheci em um show e com a qual transei pouco tempo depois e que acabou em um exame de DNA e logo em seguida eu assumi a guarda fisica do Gabriel.

Pois foi em uma sexta-feira, por volta das 22:00 hs após fazer o Gabriel dormir que me dei conta do que havia acontecido: eu estava em casa “sozinho”, ou seja sem “amigos” ou “mulheres” mesmo assim me sentia completo, preenchido, feliz e em paz. Foi nesse momento em que lembrei de tudo que meu pai havia feito por e que compreendi que tudo aquilo ele havia feito por amor e em última instãncia por ele mesmo. Só hoje sou capaz de compreender o que sempre foi dito: certas coisas você só entende quando têm filhos e que não há dinheiro no mundo que pague o sorriso de um filho, não aventura sexual que supere o prazer do abraço de um filho, não há som melhor do que ouvir um filho dizendo “pai senta aqui comigo e vamos jogar playstation” !

É obvio que eu tive condições de manter meu padrão de vida / consumo mesmo após o nascimento do meu filhos e que em nenhum momento o que eu “gasto” com ele me fez “falta “, mesmo que o fizesse suponho que isso somente seria motivo de sofrimento se por incompetência minha ele estivesse passando fome.

Porém de maneira alguma aconselho as pessoas que por algum motivo estejam se sentindo sozinhas ou infelizes a tentar compensar isso com um filho. Minha sugestão é que na medida do possível uma família seja forma do modo tradicional. Até porque sei que tive sorte de ter um filho e não um AIDS !!!!!!!

No meu caso não o fiz por força da circunstâncias: primeiro por ter que me adaptar à uma situação imprevista e indesejada, mas que em nenhum momento foi o fim do mundo e eu agi da forma como gostaria e sabia que meu pai agiria comigo, ou seja assumindo a guarda e responsabilidade.

Se existe um Deus ou um ser supremo que governa todas as coisas eu poderia dizer que estou em paz com ele pois tive pelo menos quatro oportunidade na vida de casar e constituir família com mulheres dignas e simplesmente não o fiz por desejar ser Homem maduro, solteiro, centrado e esforçado e por acreditar que isso era sinônimo de Liberdade + Despreocupação + Estabilidade + Prazer + Tempo livre. Mas hoje me pergunto por qual motivo eu precisaria disso por qual motivo isto teria me feito mais feliz se eu tivesse casado e tido filhos ?

Mas esse é o tipo de visão que vem com a vida. E também é preciso reconhecer que eu tive mais sorte do que muitas pessoas. Nasci num lar onde a família se mantém unida e tive um pai que me ensinou que honra e honestidade são valores essenciais.

Não creio que o estudo seja a melhor forma de se atingir a estabilidade financeira, pois cada um deve encontrar o seu caminho. No meu caso eu sempre estudei muito porque gosta de ler e estudar me dava prazer e isso me trouxe muitas conquistas, Mas eu nunca deixei de fazer outras coias para estudar (apenas quando estudava para o vestibular). Mesmo quando estudo para concursos consigo equilibrar estudo com lazer.
Também não creio que o estudo formal seja a única forma de desenvolver o pensamento crítico, pois se assim o fosse não Platão e Aristóteles seria meros carpinteiros ( se bem que dizem por aí que um certo carpinteiro revolucionou o mundo há 2000 anos …)

Aos jovens eu diria que “erro” é um termo que admite várias acepções. E que “errar” é inerente à experiência Humanada da Vida e que a diferença está na forma como você lida com os “erros” que comete.

E diria mais: não tenha medo da Vida. Vá em frente, PROTEJA-SE DAS DST, arrisque-se, entregue-se às pessoas de corpo e alma (mas jamais faça isso esperando algo em troca) e machuque-se se não for possível evitar mas viva a Viva de melhor forma que lhe for possível desde que isso não prejudique a você mesmo ou a terceiro (a não ser que esse “prejuizo” seja razoável e consentido por quem sofrer o “prejuízo”).

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Poesia de Fernando pessoa.

I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até corpo, essa descida
Ate à noite que nos a Alma obstrui,
Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aqueém não há no Mundo, Corpo Seu.

II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue actual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosacruz conhece e cala.

Fernando Pessoa.